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Angola: É preciso pagar o combustível da ambulância?

9 de julho de 2025

No município da Conda, província angolana do Cuanza Sul, falta material básico nas unidades de saúde, incluindo luvas e medicamentos. Até nem haverá combustível para abastecer a ambulância.

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Hospital Municipal da Conda
Administrador reconhece falhas no Hospital Municipal da CondaFoto: Óscar Constantino/DW

Aconteceu há poucos meses. A esposa de "Poeta Anónimo", um conhecido ativista social no município da Conda, entrou em trabalho de parto e precisava de ser transferida para outra localidade.

A família chamou a ambulância, mas a resposta do hospital deixou "Poeta Anónimo" indignado: Pediram-lhe para abastecer a ambulância com combustível.

"A minha mãe ligou para que fosse ao hospital, porque a minha esposa precisava de ser transferida para o Sumbe e a ambulância não tinha combustível", conta o ativista. "Mas eu não aceitei, fomos ao encontro do [administrador municipal], que estava a presidir a uma reunião, e ele mandou abastecer a ambulância."

Fazer pedidos do género é ilegal – mas, segundo "Poeta Anónimo", é algo recorrente na região. Por exemplo, pedidos de aluguer de viaturas particulares para transferir doentes do município da Conda para o Hospital Geral do Cuanza Sul.

"Às vezes, a enfermeira quer que os familiares dos pacientes assumam os custos da transferência e mandam abastecer a ambulância, porque não tem combustível", denuncia.

Administrador reconhece falta de material

Localizado a mais de 150km da capital da província, o município da Conda tem, ao todo, um hospital e 25 postos de saúde, segundo dados oficiais – 15 dos quais degradados e a funcionar apenas das 08-15h, muitas vezes com um único técnico de saúde.

Contactada pela DW, a diretora do Hospital Municipal, Luísa Jorge, remeteu esclarecimentos sobre o assunto para o administrador municipal.

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O administrador municipal da Conda, Adão da Silva Pereira, reconhece que já ouviu queixas do género: "Quem vem ao hospital e não está internado tem mesmo de ir comprar medicamentos fora do hospital. Houve também um caso que me chegou em que alguém queria transferir o seu familiar e não queria esperar mais, tendo de alugar um carro particular, mas a nossa ambulância está disponível."

"Quanto a essa denúncia de que o particular tem de abastecer a ambulância, isso não deve acontecer. Isso é crime. Todos esses casos envolvendo a Função Pública devem ser denunciados", apela Adão da Silva Pereira.

O administrador refere que, quando assumiu o cargo, em 2019, o orçamento para o hospital municipal era o equivalente a 16.500 euros. Sem precisar números, garante que, agora, o orçamento para a saúde aumentou.

Seja como for, de uma coisa Hebreu Verbal, residente no município da Conda e formado em Ciências da Saúde, tem a certeza: O orçamento para o setor não é suficiente, porque falta material básico.

"Eu estagiei no hospital municipal e na maternidade, já presenciei situações em que mandaram vários pacientes comprar material básico", diz. "Tem momentos em que mandam comprar alguns instrumentos, como luvas, bisturis e medicamentos se estiverem em falta."

É "lamentável", conclui Hebreu Verbal.

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Óscar Constantino Correspondente da DW África em Sumbe