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Angola reforça vacinação face ao aumento de casos de cólera

21 de março de 2025

A propagação da cólera em Angola e a discrepância nos números oficiais levaram o Parlamento a exigir esclarecimentos ao Ministério da Saúde. Governo diz ter a situação sob controlo, apesar do aumento do número de mortos.

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Crianças brincam no lixo em Luanda
Deficiência na recolha de lixo e no sistema de esgotos são fatores importantes na propagação da cóleraFoto: Borralho Ndomba/DW

O Parlamento angolano questionou, esta sexta-feira (21.03), os dados do Ministério da Saúde sobre os casos de cólera no país. Dados divulgados na quinta-feira (20.03) pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, referem que o país tem 7.950 casos registados de cólera, dos quais 298 resultaram em óbitos. O surto já atinge 14 das 21 províncias. Luanda continua a liderar com 48% das mortes, seguida pela província do Cuanza Norte, que regista 33%, informou a ministra.

"Na última semana, surgiu um aumento brusco do número de casos na província do Cuanza Norte, município de Cazengo, comuna da Canhoca, localidade de Luinha e bairros circunvizinhos, que provocaram, em menos de 48 horas, 13 óbitos e 44 casos. Em adição, queremos dar nota de que esta área é uma área agrícola remota, de muito difícil acesso, e que enfrentou este difícil momento, que foi controlado com a rápida intervenção multissetorial, nacional e provincial", afirmou Sílvia Lutucuta.

Sílvia Lutucuta numa foto durante a pandemia de Covid-19, em outubro de 2020
Sílvia Lutucuta, ministra da Saúde de Angola, anunciou o reforço da vacinação contra a cóleraFoto: Borralho Ndomba/DW

A localidade de Luinha, no município de Cazengo, na província do Cuanza Norte, está sob cerca sanitária desde segunda-feira (17.03). Apesar do aumento dos casos, a ministra da Saúde assegura que o surto está sob controlo em Angola.

Entretanto, a questão da cólera foi debatida hoje na Assembleia Nacional, por proposta do grupo parlamentar da UNITA. Os deputados, que consideram a situação alarmante, questionaram a fiabilidade dos dados fornecidos pelo Ministério da Saúde. Benedito Daniel, do Partido de Renovação Social (PRS), defendeu que o combate à doença não se limita apenas ao fornecimento de soros e vacinas.

"O número que nos é apresentado pode não ser aquele que está a afetar a população, porque tem havido dificuldades em fazer o levantamento daqueles que falecem fora dos hospitais. Se não se fizer um bom levantamento, vamos perder a estatística, pensando que a cólera está a matar pouco”, alertou.

O Governo tem apelado à população para reforçar a higiene nos seus lares e consumir apenas água tratada. No entanto, os cidadãos continuam a queixar-se da falta de água potável em vários bairros, e a recolha de lixo permanece deficiente.

Eugénio Manuvakola, deputado pela UNITA, atribui o aumento dos casos às debilidades no saneamento básico do país.

"Nós estamos misturados com as fezes. Estamos a beber água contaminada pelas fezes. Eu visitei o município do Kikolo e não gostei daquilo que vi na praça do Kikolo. Eu saí de lá com uma conclusão: vai haver cólera. E acertei", afirmou.

Ruas sujas em Luanda
Homem percorre ruas sujas em LuandaFoto: Borralho Ndomba/DW

Os dados atuais sobre a cólera no país são preocupantes, acrescenta o deputado Paulo de Carvalho, do MPLA.

"Desta vez, estamos a ser seriamente atingidos, não apenas devido ao período do ano em que estamos, pois, neste período quente, é maior a probabilidade de propagação deste tipo de enfermidade. Um outro fator de natureza sociodemográfica está relacionado com a grande concentração de pessoas em bairros como o Paraíso e o Belo Monte, em Cacuaco, para citar apenas estes dois exemplos", destacou.

A ministra da Saúde anunciou o início de uma nova fase da campanha de vacinação nos próximos dias.

"A primeira campanha foi realizada de 3 a 7 de fevereiro, em 98 bairros, para uma população-alvo de mais de um milhão de pessoas. Tínhamos 925 mil doses disponíveis, que foram utilizadas, atingindo uma cobertura vacinal de 80%. Iremos, em breve, iniciar uma nova campanha de vacinação. Conseguimos adquirir mais 700 mil doses, e a prioridade será dada às áreas de maior risco", concluiu Sílvia Lutucuta. 

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