Angola: Principal hospital do Cuanza Sul sem reagentes
21 de junho de 2025Há mais de 150 dias que os utentes vão ao Hospital 17 de Setembro, que recebe pacientes de quase toda a província do Cuanza Sul, e este está sem reagentes para análises clínicas.
"Depois de 50 anos de governação ainda temos problemas de base? Enquanto outros estão a comprar terrenos no espaço, nós (angolanos) ainda estamos com problemas de base?", questiona o utente Inoque Kanguia, que pretendia fazer exames de sangue.
Outro utente, Milagre Fela, dirigiu-se ao hospital com um menino de 12 anos, mas foi-lhe dito que não estavam a fazer exames, pelo que foi orientado a optar por um centro privado para o efeito.
"Estou a andar com um menino de 12 anos que está febril, mas infelizmente aqui não se faz análises. Estou agora à procura de um centro privado para fazer as análises clínicas. Foi a única orientação que me deram. Para depois levar os resultados ao hospital para passarem as receitas. Só as receitas médicas porque os medicamentos também teremos de ir comprar noutro sítio", desabafa.
Irritado, o utente Manuel António pede que a ministra da Saúde de Angola, Sílvia Lutucuta, se demita do cargo que ocupa.
"A ministra da Saúde, diante desta situação toda, não há cabimento continuar neste cargo, não tem condições, seria bom que se demitisse, pois estamos a falar de um hospital a nível provincial que recebe Orçamento do Estado para funcionar em pleno".
O ativista social Sebem Freitas mostra-se preocupado com a situação.
"O que se está a fazer neste momento no Hospital 17 de Setembro é advinha, é simplesmente consulta e consulta é adivinhar, porque presume-se que o cidadão tem esta ou aquela doença, e isso é perigoso, estamos a brincar com a vida das pessoas. É preciso instar a Procuradoria Geral da República e o Serviço de Inteligência e Segurança de Estado para perguntar aos fornecedores porque não estão a fornecer os reagentes e os medicamentos", adverte Freitas.
Por seu lado, o diretor do Gabinete da Saúde, Nelson Camilo, confirma que há falhas nos stocks e culpa a falta de pagamento aos fornecedores.
"Em termos de fármacos temos alguns vindos do CECOMA [Central de Compras de Medicamentos], portanto não é a quantidade que nós gostaríamos que tivéssemos. Alguns municípios têm feito aquisições via ordem de saque, mas estamos numa fase extremamente difícil. Alguns fornecedores até aqui foram ajudando as direções dos hospitais, mas por falta de pagamentos das ordens de saque retirou a capacidade aos fornecedores", explica.