Os desafios da exploração de petróleo na Bacia do Okavango
11 de abril de 2025Uma notícia datada de 17 de março da Agência Angola Press (ANGOP) dá conta da assinatura de um memorando de entendimento, em Luanda, para a exploração do potencial petrolífero da Bacia do Etosha-Okavango.
O documento foi assinado entre a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG) e o grupo empresarial vietnamita Xuân Thiên (XTG). O memorando contempla também a realização de um estudo aprofundado para a obtenção de 2.000 quilómetros de dados sísmicos 2D, num período de três anos, renovável.
Segundo o ambientalista Jerónimo António, investigador da área ambiental na província do Cunene, o grande problema não é apenas a exploração de um recurso como o petróleo, mas sim a ausência de um estudo sério de impacto ambiental, que possa prevenir males maiores para as gerações futuras.
"Obras megalómanas"
"O nosso problema é também a obstrução causada por obras megalómanas. Não é que sejamos contra essas obras, mas o que nos preocupa é que muitas vezes elas não são sujeitas à fiscalização de uma entidade independente, especializada em impactos ambientais, para pelo menos acautelar os possíveis danos", explica Jerónimo António.
"Quando se exploram minerais, não é só o petróleo que está em causa - também se afetam os lençóis de água, os solos e o aquífero freático", sublinha ainda o ambientalista.
Na ocasião da assinatura do memorando, Paulino Jerónimo, presidente do Conselho de Administração da ANPG, afirmou que o acordo representa um avanço estratégico na exploração do potencial petrolífero do país, reforçando o compromisso com um desenvolvimento sustentável e competitivo do setor.
No entanto, o defensor dos direitos humanos Alberto Viagem defende que esta estratégia deve também ter em consideração a responsabilidade social para com as comunidades locais, especialmente aquelas que vivem nas zonas a explorar.
"Esta reflexão, do ponto de vista da exploração racional dos recursos, deve incluir a gestão das potencialidades locais. Ou seja, é necessário criar inclusão, dar oportunidades de trabalho aos jovens locais e, ao mesmo tempo, cumprir com as responsabilidades sociais da empresa", explica.
Prejuízos ambientais futuros
O projeto abrange as províncias do Cuando, Cubango e Cunene. Apesar do ceticismo quanto aos benefícios económicos do projeto, Alberto Viagem não tem dúvidas de que este poderá trazer prejuízos ambientais significativos para as próximas gerações: "Estamos a explorar uma das principais fontes de receita do país, mas, ao mesmo tempo, estamos a criar danos ambientais que poderão afetar negativamente as populações."
As bacias internas do país, especialmente as do Etosha e Okavango, têm vindo a revelar, através de diversos estudos geológicos e geofísicos, um considerável potencial em hidrocarbonetos.
O ambientalista Jerónimo António alerta, contudo, para a necessidade de proteger a biodiversidade, lembrando que essa é uma tarefa que exige racionalidade. "Esta exploração deve ser bem estudada e, de preferência, evitada. Como ambientalista, esta é a minha posição, sobretudo tendo em conta o impacto que já vimos quando se constrói, por exemplo, uma cidade no delta ou na bacia de um rio", diz.
A zona do Okavango é também palco do projecto turístico transfronteiriço de conservação KAZA Okavango-Zambeze. O ambientalista deixa um alerta aos governantes da África Austral: "A população da África Austral não pára de crescer e, por isso, a necessidade de terras aráveis será cada vez maior. Temos um grande desafio na região: a diminuição dos recursos hídricos. Todo o cuidado é pouco: devemos ser mais prudentes na forma como tratamos questões como esta."