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Os desafios da exploração de petróleo na Bacia do Okavango

11 de abril de 2025

A exploração de petróleo na Bacia do Etosha-Okavango, em Angola, levanta preocupações entre ambientalistas e defensores dos direitos humanos quanto ao impacto ambiental e ao futuro das próximas gerações.

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O Projeto Transfronteiriço de Conservação do Okavango-Zambeze (KAZA) abrange cinco países africanos: Angola, Botswana, Zimbabué, Namíbia e Zâmbia
A zona do Okavango é também palco do Projeto Transfronteiriço de Conservação do Okavango-Zambeze (KAZA), que abrange Angola, Botswana, Zimbabué, Namíbia e ZâmbiaFoto: A.L.

Uma notícia datada de 17 de março da Agência Angola Press (ANGOP) dá conta da assinatura de um memorando de entendimento, em Luanda, para a exploração do potencial petrolífero da Bacia do Etosha-Okavango.

O documento foi assinado entre a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG) e o grupo empresarial vietnamita Xuân Thiên (XTG). O memorando contempla também a realização de um estudo aprofundado para a obtenção de 2.000 quilómetros de dados sísmicos 2D, num período de três anos, renovável.

Segundo o ambientalista Jerónimo António, investigador da área ambiental na província do Cunene, o grande problema não é apenas a exploração de um recurso como o petróleo, mas sim a ausência de um estudo sério de impacto ambiental, que possa prevenir males maiores para as gerações futuras.

"Obras megalómanas"

"O nosso problema é também a obstrução causada por obras megalómanas. Não é que sejamos contra essas obras, mas o que nos preocupa é que muitas vezes elas não são sujeitas à fiscalização de uma entidade independente, especializada em impactos ambientais, para pelo menos acautelar os possíveis danos", explica Jerónimo António.

"Quando se exploram minerais, não é só o petróleo que está em causa - também se afetam os lençóis de água, os solos e o aquífero freático", sublinha ainda o ambientalista.

Ambientalistas preocupados com poluição da orla marinha

Na ocasião da assinatura do memorando, Paulino Jerónimo, presidente do Conselho de Administração da ANPG, afirmou que o acordo representa um avanço estratégico na exploração do potencial petrolífero do país, reforçando o compromisso com um desenvolvimento sustentável e competitivo do setor.

No entanto, o defensor dos direitos humanos Alberto Viagem defende que esta estratégia deve também ter em consideração a responsabilidade social para com as comunidades locais, especialmente aquelas que vivem nas zonas a explorar.

"Esta reflexão, do ponto de vista da exploração racional dos recursos, deve incluir a gestão das potencialidades locais. Ou seja, é necessário criar inclusão, dar oportunidades de trabalho aos jovens locais e, ao mesmo tempo, cumprir com as responsabilidades sociais da empresa", explica.

Prejuízos ambientais futuros

O projeto abrange as províncias do Cuando, Cubango e Cunene. Apesar do ceticismo quanto aos benefícios económicos do projeto, Alberto Viagem não tem dúvidas de que este poderá trazer prejuízos ambientais significativos para as próximas gerações: "Estamos a explorar uma das principais fontes de receita do país, mas, ao mesmo tempo, estamos a criar danos ambientais que poderão afetar negativamente as populações."

As bacias internas do país, especialmente as do Etosha e Okavango, têm vindo a revelar, através de diversos estudos geológicos e geofísicos, um considerável potencial em hidrocarbonetos.

O ambientalista Jerónimo António alerta, contudo, para a necessidade de proteger a biodiversidade, lembrando que essa é uma tarefa que exige racionalidade. "Esta exploração deve ser bem estudada e, de preferência, evitada. Como ambientalista, esta é a minha posição, sobretudo tendo em conta o impacto que já vimos quando se constrói, por exemplo, uma cidade no delta ou na bacia de um rio", diz.

A zona do Okavango é também palco do projecto turístico transfronteiriço de conservação KAZA Okavango-Zambeze. O ambientalista deixa um alerta aos governantes da África Austral: "A população da África Austral não pára de crescer e, por isso, a necessidade de terras aráveis será cada vez maior. Temos um grande desafio na região: a diminuição dos recursos hídricos. Todo o cuidado é pouco: devemos ser mais prudentes na forma como tratamos questões como esta."

Adolfo Guerra Correspondente da DW África em Menongue