Angola: Oposição denuncia ataques no "mês da paz"
1 de maio de 2025No passado dia 12 de abril, uma comitiva do partido PRA-JA Servir Angola foi alvo de um ataque no município do Cuito Cuanavale, província do Cuando Cubango. A caravana, liderada por Domingos Francisco Cabral, secretário nacional para os recursos humanos do partido, deslocava-se à sede comunal da Mavonga para a realização da primeira conferência provincial da força política. A comitiva foi surpreendida por barricadas na estrada e atacada por um grupo de indivíduos armados com pedras, facas e outros objetos contundentes.
"Andávamos devagar, quando encontrámos três barreiras de paus. Vimos que a estrada estava interditada e perguntámos o que se passava. Assim que parámos, saíram muitas pessoas escondidas no mato, com pedras, facas e outros objetos. Começaram logo a atirar. A primeira pedra, muito grande, acertou na porta onde eu estava, do lado do passageiro. Felizmente, os vidros fumados e o autocolante de segurança ajudaram a evitar ferimentos graves", relata Domingos Cabral.
Outro episódio de intolerância política foi denunciado por Soliya Selende, secretário provincial do Partido de Renovação Social (PRS) no Huambo, que revelou ter sido alvo de perseguições e atos de intimidação: "Estou a ser perseguido. No dia 5 de abril, invadiram a minha viatura e partiram a maçaneta do carro, porque queriam aceder ao interior enquanto eu participava num debate na Rádio Eclésia, no Huambo", conta.
"Na madrugada de 8 para 9 de abril, invadiram a minha residência, na centralidade da Caála, e levaram o meu telemóvel", continua. "Falar de paz e reconciliação nacional neste país é uma utopia", conclui o responsável político.
Dedo apontado ao MPLA e UNITA
O ataque à comitiva do PRA-JA no Cuito Cuanavale ocorreu no mesmo dia em que, também no município do Longa, província do Cuando Cubango, deputados da UNITA foram alvo de agressões físicas. Até ao momento, o desfecho do caso permanece desconhecido.
Domingos Cabral, do PRA-JA, critica a falta de responsabilização e aponta o dedo aos dois maiores partidos do país, o MPLA e a UNITA, responsabilizando-os pela estagnação do processo de reconciliação: "Estes dois partidos já fizeram a sua história, agora devem ceder espaço para que novas forças possam contribuir para o desenvolvimento de Angola".
"Paz e reconciliação devem andar de mãos dadas"
Por sua vez, o padre Elias Jesus Paixão Rui Ndala, assistente espiritual da Comissão Diocesana de Justiça, Paz e Integridade da Criação da Diocese de Menongue, defende que a paz e a reconciliação devem andar de mãos dadas e alerta para os riscos de as dissociar. "Geralmente falamos da paz mas queremos separá-la da reconciliação. Se nos esquecermos da reconciliação, é um erro grave e um perigo para a nação. Sem um processo de reconciliação efetivo, a paz estará sempre ameaçada", avisa.
Os episódios de violência e intolerância política registados durante o mês consagrado à paz colocam em causa os esforços simbólicos de reconciliação e evidenciam a fragilidade do tecido democrático angolano. A esperança de uma paz duradoura permanece, mas exige compromissos sérios de todos os atores políticos e sociais.
A DW procurou ouvir o MPLA na província, mas sem sucesso. A DW África contactou também a polícia para mais detalhes, mas não obteve resposta até ao fecho desta reportagem.