Angola: Onde está o vice-presidente da ANATA?
1 de agosto de 2025Uma "ação criminosa". Foi assim que o Presidente angolano, João Lourenço, classificou esta sexta-feira os tumultos dos últimos dias em Angola.
A greve dos taxistas marcada para segunda, terça e quarta-feira degenerou em atos de vandalismo. Mais de uma centena de estabelecimentos comerciais e dezenas de viaturas terão sido destruídas. 1.515 pessoas foram detidas, segundo o último balanço oficial.
Entre os detidos está Rodrigues Cativa, vice-presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA).
Maria Cativa, irmã mais velha de Rodrigues Cativa, revela que elementos do Serviço de Investigação Criminal (SIC) detiveram o ativista esta quinta-feira, na província de Benguela, momentos depois de ele ter participado num direto, nas redes sociais, para apelar ao regresso dos seus colegas ao trabalho.
Paradeiro desconhecido
"Eles chegaram em casa às 14 horas, não nos informaram nada, não apresentaram nenhum mandado de captura", diz a irmã do vice-presidente da ANATA. "A única coisa que eles disseram foi 'vamos te levar para você desconfirmar aquilo que falou'."
A família ficou surpreendida, acrescenta Maria Cativa, que até hoje não sabe nem o paradeiro, nem os motivos da detenção do ativista: "Até aqui, nós não conseguimos ver o meu irmão e não nos dizem nada."
O Serviço de Investigação Criminal não se pronuncia sobre o assunto.
Nas redes sociais, o presidente da ANATA, Francisco Paciente, confirmou a detenção de Rodrigues Cativa.
A ANATA, que se demarcou dos atos de arruaça e saques durante os três dias de paralisação dos taxistas, insta as autoridades a esclarecer os motivos da detenção e a observar as garantias legais do seu associado.
Outra detenção
O ministro do Interior angolano, Manuel Homem, prometeu, na quinta-feira, "agir com firmeza contra quem, por motivações políticas ou oportunistas, tenta mergulhar, sem sucesso, o país no caos".
Na quinta-feira, foi detido Miguel Kimbenze, o secretário provincial da coligação eleitoral CASA- CE em Luanda, por alegados atos de incitação à violência contra a polícia.
À DW, Manuel Fernandes, presidente da Coligação Eleitoral, diz que a detenção "tem a ver com uma publicação feita pelo companheiro Miguel Kimbenze sobre os acontecimentos" desta semana.
Nas redes sociais, Miguel Kimbenze escreveu: "A partir de agosto, todos os senhorios que têm cidadãos polícias como inquilinos devem rescindir os contratos com os mesmos. Não podemos ter, no nosso seio, assassinos sanguinários."
Defensores dos direitos humanos denunciam os "excessos" e uso "desproporcional" da força pela polícia. O advogado Hermenegildo Teotónio, membro da KUTAKESA - Movimento de Defensores dos Direitos Humanos em Angola, disse à agência de notícias Lusa que "foram dadas ordens aos agentes para atirar a matar à população".
Sobre a violência dos últimos dias, o Presidente angolano João Lourenço afirmou lamentar "a perda de vidas humanas" e expressou os "mais profundos sentimentos de pesar a todas as famílias enlutadas e votos de rápidas melhoras aos feridos".