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Angola: Novas administrações sem computadores e impressoras

28 de fevereiro de 2025

Os gestores dos 162 novos municípios criados em Angola estão a enfrentar um mar de dificuldades. Para irem ao trabalho, vão de boleia ou de táxi, percorrendo nalguns casos mais de 30 quilómetros.

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Rua no Bengo
Será que a nova divisão político-administrativa trará benefícios à população?Foto: António Ambrósio

Foi em janeiro deste ano que as novas 162 administrações municipais começaram a funcionar. Angola passou a contar com um total de 326 municípios, distribuídos agora em 21 províncias.

Mas como andam as recém-criadas administrações?

Em entrevista à DW, o especialista em administração local Manuel Gonga denuncia que os novos gestores não têm transportes protocolares. O Ícolo e Bengo seria um dos exemplos desta crise.

"Os administradores municipais ainda não têm viaturas, deslocam-se com a ajuda dos administradores dos municípios de que foram desanexados. Às vezes vão até mesmo de táxi", assegurou o especialista.

"É tudo uma farça"

Gonga considera que a criação das novas administrações foi apenas uma ilusão. Numa das administrações que o especialista visitou recentemente, "nem impressora ou computador havia".

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"E eu tenho prova destes factos, porque visitei já seis desses novos municípios e o que constatei é triste, nem cadeira para o próprio administrador municipal sentar tem. Há uns que não dormem nos municípios em que foram colocados como administradores, porque nem casa em condições têm, ainda que a casa esteja lá. Não tem mobília, não tem botija de gás, não tem fogão, não tem pratos. É tudo bungle [farça]", conta Gonga.

Em nota enviada à redação da DW, Francisco Vitoriano, diretor do Gabinete de Comunicação Institucional do Governo da nova província de Ícolo e Bengo, com sete municípios, garante que "o Ministério da Administração do Território está a criar as condições para atribuição das viaturas para melhorar o funcionamento."

Condições sociais

Na província de Malanje, os problemas abrangem outros setores.

O ativista cívico Aires Bomboca realça que Cacuso e a sede provincial são, por exemplo, os únicos dos atuais 27 municípios com dependências bancárias e outras condições sociais.

"Nenhum desses municípios, por mais que tenham rótulos de municípios, tem uma agência bancária", refere.

Terreno na província do Bengo, em Angola
Especialista diz que, nas novas administrações, é tudo "bungle"Foto: António Ambrósio/DW

Para o professor Nkruma Pinto, o problema maior são as condições sociais nos municípios mais antigos. Muitos deles não beneficiam de energia elétrica da rede pública, apesar de Malanje contar com dois aproveitamentos hidroelétricos gigantes: Capanda e Laúca.

O fornecimento é de fontes alternativas: "Liga-se o gerador às 10 horas e desliga-se às 15 horas. Volta-se a ligar às 18 horas e desliga-se às 22 horas. É a realidade de muitos municípios", denuncia.

Eleições autárquicas são a solução?

Ernesto José, membro da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) e funcionário público na província angolana do Cuanza Norte, a quase 256 quilómetros de Luanda, insiste que o melhor para Angola, de imediato, é a aprovação da última lei do pacote legislativo para implementar, definitivamente, as autarquias.

 "O que Angola precisa não é acrescentar novos municípios, é a efetivação da institucionalização das autarquias", comenta.

De acordo com o Governo de João Lourenço, a reorganização político-administrativa foi efetivada com o objetivo de aproximar os serviços públicos aos cidadãos e melhorar a forma como as políticas públicas são executadas, tendo em conta os anseios e expetativas dos cidadãos.