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Angola: Falta água há 30 anos na Gabela

23 de julho de 2025

Há mais de 30 anos, os moradores da Gabela, no Cuanza Sul, enfrentam uma grave escassez de água potável. O problema afeta sobretudo os bairros periféricos e continua sem solução à vista.

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Acesso água potável em Angola
Problema afeta sobretudo os bairros periféricos e continua sem solução à vista.Foto: Óscar Constantino/DW

Nos bairros mais afastados do centro urbano, os moradores dependem de cacimbas ou são forçados a comprar pipas de água a preços elevados, muitas vezes inacessíveis para famílias de baixa renda.

Uma funcionária pública reformada, residente há décadas na zona A da cidade, expressou a sua frustração em entrevista à DW África. "Há água na zona C e em parte da zona B, mas a zona A não tem água há mais de 30 anos. Vivo aqui desde que nasci. Uma pipa de mil litros custa 3.500 kwanzas, o equivalente a cerca de 3,25 euros. Algumas áreas são abastecidas, outras não. Isso complica muito. Dependemos sempre das cisternas, mas o preço é pesado para o nosso bolso”, desabafa.

A rotina de quem vive na periferia é ainda mais desgastante. Sílvia Donga, também moradora da Gabela, relata que a busca por água começa antes mesmo do amanhecer.

Acesso á água potável em Angola
Em 2019, foi anunciado um projeto para construção de uma central de captação e tratamento de água na Gabela mas, até hoje, nenhuma obra foi iniciada.Foto: Óscar Constantino/DW

"Levantamo-nos cedo para buscar água. Enfrentamos o frio e corremos riscos, mas não temos outra escolha. Muitas vezes, baldes deixados na fila são destruídos por outros. A água sai diretamente do poço, pronta para consumo. As autoridades recomendam fervê-la ou usar lixívia, mas nem sempre há paciência, nem dinheiro para comprar lixívia. O que a saúde distribui não chega para todos. E não podemos simplesmente morrer de sede”, afirma.

Acesso desigual à água

O ativista social Silvestre Magalhães, residente na Gabela há cerca de 25 anos, confirma que a situação se agrava nos bairros mais afastados.

"As zonas periféricas continuam sem acesso regular à água. Alguns bairros recebem abastecimento esporádico por meio de camiões-cisterna, mas isso é insuficiente”, destaca.

Apesar da abundância de rios na região, como o rio Wiya, o problema persiste. "É inconcebível. Temos muitos rios que poderiam fornecer água, mas o problema permanece inalterado há décadas”, critica Magalhães.

Promessas que não saem do papel

Em 2019, foi anunciado um projeto para construção de uma central de captação e tratamento de água na Gabela, avaliado em quatro mil milhões de kwanzas (cerca de 3,7 milhões de euros). No entanto, até hoje, nenhuma obra foi iniciada.

Como soluções simples podem ser muitas vezes as melhores

A administradora municipal da Gabela, Cremilda Albino, garante à DW que o projeto continua em carteira.

"Esperamos que a iniciativa seja concretizada. A questão da água preocupa todos os níveis de governação. Estamos a trabalhar para a construção de uma nova captação, a partir do Assango até à cidade da Gabela”, assegura.

Segundo Cremilda, a distribuição de água atualmente é feita por quatro camiões-cisterna, devidamente desinfetados com hipoclorito de sódio antes do consumo.

Falta de água agrava riscos sanitários

A escassez de água potável tem impacto direto na saúde pública. Em 2023, a Gabela enfrentou um surto de cólera e a falta de água dificultou o combate à doença.

O padre moçambicano Alfredo Tumbu, que vive na cidade há mais de cinco anos, alerta para a gravidade da situação.

"Recentemente, fomos assolados pela cólera. E combater a cólera não é apenas dizer ‘lavem as mãos'. Como seguir essa orientação se não há água? É preciso garantir condições mínimas de higiene, desinfetar espaços, mas estamos diante de um problema básico: não temos água", alerta o líder religioso.

Enquanto o projeto de captação não avança, milhares de habitantes da Gabela continuam a enfrentar uma crise silenciosa. Para muitos, o acesso à água potável permanece um privilégio distante - e, em muitos casos, uma impossibilidade diária.

Angolana divide-se entre duas paixões profissionais

Óscar Constantino Correspondente da DW África em Sumbe