Angola: Assassinato de 18 camponesas idosas no Cuanza Norte
21 de fevereiro de 2025A cidade de Ndalatando, na província angolana do Cuanza Norte, é palco no domingo (23.02) de uma marcha de repúdio sob o lema "Criminalidade zero, diga não à vandalização de bens públicos e basta às mortes das mulheres anciãs nas lavras do município do Cazengo".
Desde fevereiro deste ano, 18 camponesas foram mortas e violadas sexualmente. Com o pânico e o terror gerados pelos assassinatos, muitos camponeses deixaram de ir às zonas de cultivo por medo de serem atacados. Vivem-se momentos de penúria por parte das famílias e reina um clima de incerteza.
É o caso de Joana Pereira, de 56 anos, que está apreensiva e apavorada com a situação, tal como contou à DW. A camponesa pede a intervenção das autoridades locais para garantir mais segurança pública nas lavras do município.
"Não podemos ir às lavras, estamos a ser mortas pelos bandidos, estamos a acabar, não podemos ir sozinhas”, queixou-se. "Os filhos estão a morrer com a fome e as filhas também", desabafa Joana Pereira.
Rosa Manuel, de 54 anos de idade, é outra camponesa que vive na periferia da cidade de Ndalatando. Amedrontada com a situação, lança um grito de socorro, solicitando ao Governo a mobilização das Forças Armadas Angolanas (FAA) para a "Operação mortes nas lavras".
"Estamos muito mal aqui no Cuanza Norte. Com a maka dos bandidos nas lavras não estamos a andar devidamente [livres]”, desabafa. "Então, João Lourenço [Presidente de Angola] disse que pegam as mãos nas catanas, nós pegamos as mãos nas catanas, estamos a ir às lavras, [mas] estão a nos matar, as mortes estão a ser demais”, acrescenta, avisando que as meninas são as principais vítimas. "Os rapazes não, por isso, queremos o apoio do nosso Governo para pôr tropas no terreno", insiste Rosa Manuel.
Polícia Nacional mobilizada
A DW África apurou junto de uma fonte local, sob anonimato, que dos 18 casos das anciãs camponesas vítimas de homicídio voluntário, seguido de violação sexual nas lavras do município do Cazengo, 12 já foram esclarecidos. Há registo de três detidos pela polícia nacional e seis estão ainda por se esclarecer.
O inspetor-chefe Edgar Salvador, porta-voz do Comando Provincial do Cuanza Norte da Polícia Nacional, em declarações à DW África, confirmou que os casos têm ocorrido apenas no município do Cazengo, desde fevereiro. O inspetor admitiu que a situação está a preocupar os órgãos de defesa e segurança da província.
"Na verdade, é uma situação que nos preocupa bastante”, afirma, acrescentando que a polícia está mobilizada "na nossa máxima força” e a trabalhar arduamente para travar tais atos. "Isto está a merecer muita atenção da delegação provincial do interior e do comando provincial da Polícia Nacional. Nós estamos a desenvolver um esforço conjunto no sentido de podermos encontrar os demais prevaricadores e conduzi-los às barras da justiça", assegura o oficial da corporação.
Acusações mútuas
Entretanto, o primeiro secretário provincial do Kwanza Norte do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) acusou, em Ndalatando, os partidos políticos na oposição de estarem envolvidos numa campanha para desacreditar o Estado angolano por duas vias. João Diogo Gaspar fez a acusação no lançamento da agenda política do seu partido, referindo não haver dúvidas quanto ao envolvimento dos partidos da oposição.
"Está a ficar claro que estão envolvidos políticos que têm como objetivo desacreditar o Estado angolano”, afirma. Por um lado, precisa, "com a vandalização dos bens públicos” e, por outro, "com o assassinato de anciãs".
Em resposta, o secretário provincial do partido PRA JA-Servir Angola no Cuanza Norte, João Quipipa Dias, retorquiu dizendo que tais "palavras visam apenas provocar distúrbios dentro da sociedade” angolana e minar "o relacionamento institucional entre os partidos políticos”.
Quipipa Dias informou que o partido vai recorrer a um advogado para contrariar a posição do MPLA. "Vamos arrolar um processo-crime contra o governador provincial para esclarecer o público e, diante da justiça, provar [o que disse]", asseverou o ex-deputado da bancada parlamentar da UNITA, no âmbito da Frente Patriótica Unida (FPU).