Angola: As consequências de transformar a FPU numa coligação
31 de janeiro de 2025A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) não terá gostado da ideia de transformar a Frente Patriótica Unida (FPU) numa coligação eleitoral.
A ideia é defendida pelos partidos PRA-JA Servir Angola e o Bloco Democrático (BD), membros da FPU. Mas o porta-voz da UNITA, Marcial Dachala, citado esta semana pelo jornal "O País", rejeitou "categoricamente" a possibilidade de formalizar a FPU como coligação de partidos.
O presidente da UNITA, residente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, explicou, entretanto, que ainda é cedo para decidir o futuro da Frente.
Em entrevista à DW África, o analista político angolano Agostinho Sikato explica as implicações de transformar a Frente Patriótica Unida numa coligação.
DW África: O que está a gerar estas aparentes divergências no seio da Frente Patriótica Unida?
Agostinho Sikato (AS): De um lado, o PRA-JA Servir Angola tem a necessidade de transformar este projeto, que haviam criado como FPU, numa coligação. Porque está em causa o Bloco Democrático, que foi o partido que não concorreu [nas últimas] eleições e que corre o risco de ser extinto se não concorrer nesta. Portanto, há uma necessidade de se juntar. Se a UNITA não entrar, o PRA-JA Servir Angola poderia coligar-se com o Bloco Democrático. Neste caso, a UNITA partiria sozinha.
DW África: Porque é que a UNITA quer ir sozinha para as próximas eleições? Porque é que o porta-voz da UNITA rejeitou que a Frente Patriótica Unida se transforme numa coligação eleitoral?
AS: Primeiro, quem é que vai liderar a instituição? Quem vai liderar a FPU? Até agora, o líder da Frente é o presidente da UNITA, porque, naquela altura, era, de facto, o presidente de um partido político. O PRA-JA Servir Angola não era um partido, agora já é.
Portanto, hoje, já é importante a questão se a liderança continua com Adalberto da Costa Júnior, tanto na própria FPU, como numa possível coligação, ou se passa para Abel Chivukuvuku.
Ambos têm as mesmas ambições. São, de facto, chefias políticas importantes e cada um tem uma cartada importante a jogar nesse [jogo] político. Este é um primeiro passo. O outro [passo], não menos importante, tem a ver com a forma como a própria coligação deve funcionar.
DW África: Ou seja, está a dizer que a UNITA não quererá abdicar do seu capital político?
AS: Numa possível transformação numa coligação, isso tudo já não existirá. Haverá apenas uma coligação de partidos políticos que terá uma bandeira e esses partidos terão de abdicar os seus símbolos. É aqui onde entra o problema com a UNITA.
Grande parte dos membros da UNITA não concorda em abdicar dos símbolos deste partido histórico para ir a eleições com novos símbolos da coligação.