Angola com "condições favoráveis" para integrar os BRICS
7 de julho de 2025Na opinião de analistas ouvidos pela DW, Angola reúne todos os ingredientes necessários para integrar o conjunto de economias emergentes que vem ganhando peso no cenário global.
Para João Lourenço, que também exerce actualmente a presidência rotativa da União Africana, os BRICS representam uma oportunidade concreta para o desenvolvimento de África.
Segundo o chefe de Estado, o continente está diante de "uma possibilidade real" de, através do bloco e das suas instituições, obter financiamento essencial, desenvolver infra-estruturas e responder a desafios estruturais nas áreas da agricultura, saúde, educação, ciência e tecnologia, energia, transportes e telecomunicações.
Oportunidade para África
Apesar disso, alguns especialistas lembram que o continente africano tem tido um papel mais secundário nas decisões globais. João Jung, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), observa que, embora muitos países africanos integrem organismos multilaterais, poucos conseguem alterar o equilíbrio geopolítico global.
"Mesmo as potências regionais africanas, como a África do Sul e a Nigéria, têm pouca capacidade de projeção de poder. Ainda assim, Angola é um país que vejo como um potencial novo membro dos BRICS, numa possível nova fase de expansão", sublinhou o especialista.
Expansão dos BRICS
Criado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo BRICS tem vindo a alargar o seu leque de membros. Desde o ano passado, passou a incluir Egipto, Irão, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Arábia Saudita e Indonésia — uma composição que reforça o peso do chamado "Sul Global" nas relações internacionais.
André Luís Reis, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, acredita que Angola está bem posicionada para uma eventual adesão.
"Angola tem tudo para ser um BRICS. É uma potência emergente, com liderança regional, uma economia em crescimento e uma agenda política alinhada com os princípios do bloco. Partilha não só a defesa da cooperação Sul-Sul, mas também uma crítica às imposições unilaterais das grandes potências, em favor de um comércio mais justo", afirmou.
Alinhamento político-económico
Durante o seu discurso na cimeira, João Lourenço reiterou esse alinhamento, defendendo que os BRICS podem desempenhar um papel crucial na construção de "um maior equilíbrio na discussão sobre os temas referentes à governação mundial, entre o Sul Global e os países desenvolvidos".
O interesse de Angolaem integrar os BRICS parece, assim, não ser apenas uma possibilidade, mas um reflexo de ambições políticas e económicas claras no contexto africano e global.