Alemanha vai deixar de financiar resgates no Mediterrâneo
26 de junho de 2025O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Johann Wadephul, defendeu esta quinta-feira (26.06) a decisão do Governo de suspender o apoio financeiro às organizações civis de salvamento marítimo que operam no Mar Mediterrâneo.
A decisão foi considerada "dramática" pelo partido da oposição Os Verdes, que alertou para o possível agravamento da crise humanitária no Mediterrâneo.
O que disse Berlim?
Falando numa conferência de imprensa no Canadá, Johann Wadephul disse que o fim do financiamento tinha sido "a decisão correta a tomar".
"A Alemanha continua comprometida com a humanidade e sempre estará", disse o ministro. "Mas não creio que seja da competência do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) utilizar fundos para este tipo de salvamento marítimo", acrescentou.
"Temos de estar ativos onde a necessidade é maior", acrescentou, mencionando a emergência humanitária no Sudão, devastado pela guerra.
Na quarta-feira (25.06), o MNE da Alemanha disse que não tinham sido previstas verbas para grupos de salvamento de migrantes nos novos planos orçamentais do ministro das Finanças, Lars Klingbeil.
Na anterior coligação, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, então liderado por Annalena Baerbock, do partido Os Verdes, tinha dado um apoio financeiro significativo às organizações não-governamentais (ONG) envolvidas no salvamento de migrantes que tentam chegar à Europa provenientes de África.
O financiamento suscitou críticas dos democratas-cristãos de centro-direita de Friedrich Merz, que tomou posse como chanceler em maio e prometeu endurecer a política de imigração. A anterior política gerou também tensões com a Itália, onde desembarcam muitos dos imigrantes resgatados.
De acordo com uma fonte do MNE, o governo alemão deu 2 milhões de euros no ano passado a organizações como a SOS Humanity, Sea-Eye e SOS Mediterrâneo para apoiar as operações de salvamento de migrantes em perigo.
Que críticas foram feitas?
Gorden Isler, presidente da organização alemã de salvamento marítimo Sea-Eye, classificou esta mudança de política como um "sinal catastrófico".
"Talvez agora tenhamos de ficar no porto apesar das emergências", afirmou.
As ONG que se dedidam ao resgate de migrantes salvaram 175 mil vidas desde 2015, de acordo com a Sea-Eye, que recebeu cerca de 10% do seu rendimento total de cerca de 3,2 milhões de euros do Governo alemão.
Os Verdes também criticaram a decisão. "Esta medida irá certamente agravar a crise humanitária no Mediterrâneo e causar mais sofrimento humano", afirmou a líder do grupo parlamentar do partido, Britta Hasselmann, na quarta-feira (25.06).