Alemanha: O que está em jogo nas eleições?
22 de fevereiro de 2025Foi uma campanha eleitoral curta, marcada por intensa disputa, em que uma palavra se destacou repetidamente: mudança de rumo. "Durante três anos, tentaram implementar uma política de esquerda na Alemanha. Já não podem continuar assim", afirmou o candidato opositor Friedrich Merz, duas semanas antes das eleições, enquanto se apresentava como candidato a chanceler pela União conservadora dos partidos CDU/CSU.
No Bundestag (Parlamento alemão), ele dirigiu estas palavras ao SPD (Partido Social Democrata) e aos Verdes, que governaram juntamente com os Liberais (FDP) desde 2021. Em novembro de 2024, a coligação de duas forças de esquerda e um partido económico-liberal desfez-se após meses de disputas por causa da falta de fundos no orçamento, o que culminou na marcação de eleições antecipadas.
A queda do SPD
Enquanto Os Verdes mantêm o mesmo apoio que tinham do eleitorado nas últimas eleições de 2021, o SPD e os Liberais sofreram uma queda significativa. O FDP pode não conseguir ultrapassar a barreira dos 5% (minímo exigido para entrar no parlamento), e o SPD é ameaçado por uma derrota amarga. Qualquer resultado abaixo de 20% seria o pior resultado da história pós-guerra para o partido, e, segundo as sondagens, o SPD está muito longe desse valor.
O chanceler Olaf Scholz seria o chefe de governo com o mandato mais curto nos últimos 50 anos e o único chanceler do SPD a não ser reeleito.
União à frente, AfD em segundo lugar
Segundo as sondagens, as melhores hipóteses para o cargo de chanceler são de Friedrich Merz. O líder da CDU lidera a União CDU/CSU, que, após 16 anos no governo, com Angela Merkel, se tornou a maior força da oposição no Bundestag em 2021 e agora deseja voltar ao poder. Em segundo lugar nas sondagens está a AfD, um partido de extrema-direita com cerca de 20% dos votos, o dobro do apoio obtido em 2021.
Mas como foi possível essa queda dramática do SPD e o crescimento da AfD? Merz, candidato da União CDU/CSU, aponta para o colapso da economia. "A economia do nosso país, da República Federal da Alemanha, é agora a mais fraca da União Europeia. 50 mil empresas faliram, cerca de 100 mil milhões de euros de capital empresarial estão a ser investidos no exterior anualmente. A nossa economia está a encolher, e estamos em recessão pelo terceiro ano consecutivo. Isso nunca aconteceu até agora na história da Alemanha após a Segunda Guerra Mundial."
Scholz e o seu ministro da Economia, Robert Habeck, candidato do partido Os Verdes, "já não percebem a realidade", diz Merz. "Sabem como me parecem? Como dois gestores contratados que levaram a empresa à falência e, depois, vão ter com os proprietários e dizem: 'Gostaríamos de continuar a fazer isto mais quatro anos.'"
Guerra, crise energética, inflação
Enquanto Merz, como desafiante, tem atacado cada vez mais duramente, o chanceler Scholz tem se mostrado cada vez mais na defensiva. Apesar de mais determinado, confiante e combativo do que nos últimos anos, frequentemente teve de defender e justificar a sua política.
Não foi o seu governo, mas o ataque da Rússia à Ucrânia que levou à crise energética e à inflação. "Até hoje, a economia ainda luta contra as consequências", afirmou Scholz. Também nos próximos anos, a situação com os Estados Unidos e as "exigências irritantes" do presidente Donald Trump não se tornará mais fácil. "O vento está a soprar contra nós. E a verdade é: isso não vai mudar fundamentalmente nos próximos anos."
Tema principal: Migração
A economia fraca foi um tema muito discutido na campanha eleitoral, mas, após o assassinato de um cidadão alemão por um requerente de asilo afegão em Aschaffenburg, o tema da migração passou a dominar. Friedrich Merz anunciou logo após o incidente que, antes das eleições, iria buscar uma restrição na política de asilo no Bundestag. Se necessário, com os votos do partido de extrema-direita AfD (Alternativa para Alemanha).
Os deputados da AfD celebraram quando, no final de janeiro, um primeiro projeto apresentado pela União CDU/CSU obteve, de facto, uma maioria com a ajuda da AfD. "Agora e aqui começa uma nova era", exultou Bernd Baumann, chefe parlamentar da AfD. "Começa algo novo, e somos nós que lideramos, as forças da AfD", disse. De fato, o seu partido está pronto para formar uma coligação com a CDU/CSU.
Colaboração com a extrema-direita excluída
Por outro lado, enquanto centenas de milhares de cidadãos têm se manifestado em todo o país contra uma guinada à direita na Alemanha, o chanceler Scholz reagia com veemência: "Não é indiferente se se colabora com a extrema-direita. Não na Alemanha!". Os cidadãos não podem confiar que a CDU/CSU não irá formar uma coligação com a AfD após as eleições.
Muito criticados, a União CDU/CSU, não perdeu a oportunidade de garantir que qualquer colaboração com a AfD seria descartada. O objetivo dos extremistas de direita da AfD seria destruir a os partidos CDU e a CSU. Com a AfD, a União não formará, de forma alguma, uma coligação.
Quem poderá formar uma coligação?
A União não poderá governar sozinha e precisará de, pelo menos, um parceiro de coligação. Quanto mais partidos entrarem no Bundestag, mais difícil será formar uma maioria e, consequentemente, um governo. A Esquerda (Die Linke) deverá conseguir entrar. Mas estão em risco de ficarem de fora o BSW (partido formado recentemente pela candidata de esquerda Sahra Wagenknecht), e o partido liberal FDP.
Se o FDP conseguir entrar no Bundestag, poderá ser necessária uma coligação de três partidos. Como o FDP excluiu um novo pacto com Os Verdes, apenas uma coligação entre a União CDU/CSU, SPD e FDP seria viável. Com menos partidos no Bundestag, poderia ser uma coligação entre a União e Verdes ou a União e o SPD.
A AfD isolada
A candidata da AfD à chancelaria, Alice Weidel, critica que tal coligação só poderia resultar na continuação da política atual. Contudo, a AfD diz que não impedirá a "mudança de rumo". Ela ocorrerá, apenas será "desnecessariamente atrasada".
Após o escândalo da votação com a AfD, as relações entre o SPD e Os Verdes em relação à União não são as melhores. No final, a formação de uma coligação dependerá de quão bem cada partido conseguirá implementar as suas ideias políticas.
Política climática
A SPD colocará a política social em destaque, enquanto Os Verdes promoverão a questão do clima. "Se a Alemanha escolher, no dia 23 de fevereiro, um governo que anuncie que não vai cumprir as metas de proteção climática, então a Europa não vai cumprir as suas próprias metas climáticas", alertou o candidato verde a chanceler Robert Habeck.
"Nesse caso, o combate ao clima a nível global terá terminado. Nenhum chanceler, nenhum ministro do Clima, nenhum comissário poderá mais viajar para a Índia, Indonésia ou China e dizer: ‘Pessoal, queimem menos carvão, invistam mais em energias renováveis!'".
Friedrich Merz sabe que as negociações não serão fáceis. Após as eleições, existirá "responsabilidade política" para resolver os problemas da Alemanha. Esta será "uma das últimas oportunidades" para remover o terreno fértil para a AfD. "Se isso não acontecer, então não estaremos apenas a lidar com 20% de populismo de direita", advertiu Merz.
"Um dia, os populistas de direita não terão apenas uma minoria de bloqueio no Bundestag, que impediria mudanças constitucionais; poderão estar perto da maioria." O possível próximo chanceler vê o SPD, Verdes e os Liberais como responsáveis: "Essa é uma responsabilidade da qual não poderão escapar, e da qual nós também não escaparemos", disse.