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Ajuda humanitária aquém das necessidades em Cabo Delgado

8 de setembro de 2025

A violência em Cabo Delgado continua. À DW, a Cáritas alerta que a ajuda humanitária é insuficiente, com fundos muito abaixo das necessidades urgentes no terreno.

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Namisir, Moçambique, 2025
Pelo menos 29 pessoas morreram e outras 208 mil foram afetadas, em julho, pelos ataques de grupos extremistas em distritos de Cabo Delgado, província moçambicana que enfrenta a insurgência armada desde 2017, avançou na sexta-feira uma agência da ONU Foto: UNHCR

A escalada da violência em Cabo Delgado continua a provocar mortos, deslocados e destruição, com ataques recentes em Muidumbe e Mocímboa da Praia. Apesar da presença das forças moçambicanas e internacionais, os insurgentes mantêm o controlo em várias zonas, impondo cobranças e ameaças.

Paralelamente, o aumento dos casos de mpox no país, na província de Cabo Delgado  o primeiro caso foi registado na passada quarta-feira (03.09), representa mais um desafio para as autoridades e para as comunidades locais, que enfrentam simultaneamente a crise humanitária e a propagação da doença. 

Em entrevista à DW, Manuel Nota, diretor da Cáritas Diocesana de Pemba, revela que a organização enfrenta graves dificuldades financeiras para prestar ajuda humanitária. A Cáritas consegue apoiar apenas uma pequena parte das famílias afetadas, quando as necessidades mais urgentes passam por alimentos, abrigos temporários e acesso a água potável. Apesar da ajuda internacional, os fundos disponíveis estão muito aquém das exigências no terreno.

 

DW África:  Qual é a situação atual das populações afetadas pela insurgência e como tem sido a resposta da ajuda humanitária?

Manuel Nota (MN): Está a ser difícil devido à escassez de recursos financeiros. A tendência de disponibilidade de recursos financeiros tem vindo a diminuir dia após dia. Como Cáritas, estamos a enfrentar muitos problemas para conseguir fundos para poder realizar as nossas atividades.

Como então? Luta antiterrorismo em Cabo Delgado corre bem?

Quando aparece um ou outro parceiro e nos dá fundos, nós utilizamo-los para prestar a assistência, mas sentimo-nos um pouco mal. No mês passado, quando houve muitos ataques em Chiure, houve a necessidade de intervir, mas não tínhamos fundos. Recolhemos o que tínhamos internamente, que era quase nada. Só conseguimos atender 400 famílias, quando na verdade havia cerca de 11.000 famílias. E as organizações que até hoje continuam a intervir são as internacionais.

Nós, as organizações nacionais, fizemos uma intervenção, mas quase nada. Quer dizer, a nossa ajuda foi uma gota no oceano. Quase não se fez sentir. Por isso, estamos a enfrentar problemas sérios de assistência neste momento.

DW África: O que é que faz mais falta nas comunidades deslocadas?

MN: Geralmente, quando há deslocação, o que é necessário são lonas para as pessoas poderem fazer abrigos temporários, para se protegerem da chuva ou do sol. E os alimentos. Isso é o mais básico quando há deslocamento: alimentos e kits de abrigo. Mas também temos a questão dos kits de água e saneamento, porque, em alguns momentos, as pessoas aglomeram-se em locais onde não há condições de água potável, e temos de ajudar com produtos para purificação da água.

DW África: A Igreja Católica tem enfrentado alguma forma de perseguição por parte dos insurgentes em Cabo Delgado?

MN: Não tanto assim, mas já existem alguns pontos de controlo de viaturas que os insurgentes, por vezes, instalam ao longo da estrada. Houve grupos que tiveram a má sorte de lhes serem cobrados valores para poderem passar. Para aqueles que eram cristãos, os valores cobrados eram um pouco mais altos, enquanto os muçulmanos, alguns, quase não eram cobrados, sendo deixados a caminhar. Mas os cristãos tinham de pagar algum valor para poderem passar.

Cabo Delgado, Moçambique, 2025
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques, no norte de Moçambique, a maioria reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de ÁfricaFoto: Marília Gurgel/MSF

DW África: Tem havido registos de atos de violência contra membros da Igreja Católica em Cabo Delgado?

MN: Não, violência não. Até agora, o que os insurgentes querem, acho eu, é dinheiro. Eles não fazem mal aos cristãos. Se o cristão der dinheiro, eles deixam passar, mas se não der, às vezes têm de ajudar e carregar a bagagem até certo ponto, depois libertam as pessoas. Tive uma informação de que, uma vez, alguém que não tinha dinheiro parece ter tido a orelha cortada e depois foi deixado seguir. Mas não são casos frequentes.

DW África: Recentemente, houve um aumento dos casos de mpox em Cabo Delgado. Qual tem sido o papel das instituições locais neste contexto?

MN: O que estamos a fazer é, principalmente, divulgar informações relacionadas com medidas de prevenção. Não que façamos combate, porque não temos, primeiro, mandato para isso, e deixamos essa responsabilidade nas mãos do Ministério da Saúde.

Em Cabo Delgado, não temos assim tantos casos, mas já se fala de alguns. Ainda não estamos numa fase muito alarmante.

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