Afropress: as manchetes africanas na imprensa alemã
22 de julho de 2011"As crianças são as primeiras a morrer" titulou o “Die Welt” num artigo que descreve a situação de fome que o Corno de África enfrenta atualmente. 15 milhões de pessoas estão ameaçadas, acrescenta o quotidiano. Muitas conseguem fugir para o Quénia, mas nem todas conseguem chegar ao campo de refugiados de Dadaab. O jornal relata a história de uma somali, Abdio Ali Elmoli, que chegou a Dadaab num estado de esgotamento total. Embora muito fraca, escreveu o “Die Welt”, ela conseguiu percorrer, primeiro de autocarro e depois a pé, os 250 quilómetros que separam a cidade de Kismayo, no sul da Somália do campo de Dadaab, no Quénia. Ela chegou ao campo com duas das suas filhas e o seu filho Mustapha. Três outras crianças já tinham morrido de fome.
Para o semanário “Die Zeit”, quando milhares de famílias famintas devem abandonar a Somália em direção ao Quénia, país também atingido pela seca e fome, a prioridade é salvar vidas humanas. Mas, acrescenta o semanário, a questão da responsabilidade no drama do Corno de África deve ser também colocada. A catástrofe natural na região seja talvez uma fatalidade, contudo, a fome não é, afirma o artigo. Há meses que especialistas têm vindo a prever a ausência de chuvas na Somália, no Quénia e na Etiópia. E todo o mundo podia saber também que a Somália está mergulhada numa guerra civil desde a década de 90. Mas, pergunta o jornal, “para que serve o melhor sistema de alerta, se ninguém quer encarar de forma séria as informações, seja por miopia política ou indiferença?"
A catástrofe programada
Na mesma ordem de ideias, outro semanário, o “Der Spiegel”, fala de uma catástrofe programada. E escreve também acerca das previsões dos especialistas sobre os efeitos da mudança climática, destacando que nos países do Corno de África atingidos pela fome, a população passou nas últimas décadas de 41 para 167 milhões de pessoas. O “Frankfurter Allgemeine Zeitung” chama a atenção para a prudência face ao anunciado número de potenciais vítimas, entre 12 a 15 milhões de pessoas.
A indústria internacional da ajuda tem a tendência de transformar mosquitos em elefantes”, diz. Não é, contudo, contestável, que uma grande catástrofe se anuncie no Corno de África, mais especialmente na Somália. “Mas a Somália”, acrescenta o jornal, “é o novo campo de batalha da Al Qaida.
A compaixão dos que nada têm
Certamente que não é por um mero acaso que a maioria dos necessitados está a viver em péssimas condições nas zonas controladas pelas milícias islamistas el-shebab. Os refugiados e as organizações que os ajudam são uma grande fonte de benefícios para terceiros. Aos camionistas são exigidas portagens, são cobradas taxas sobre os alimentos... e uma boa parte desse dinheiro vai para aqueles que pegam em armas”. Em resumo, sublinha o jornal, a razão política proíbe engordar um pouco mais a filial africana da Al Qaida.
A compaixão humana ordena o contrário. Um dilema sem solução. Mas não para os habitantes de Mogadíscio, relata o “Tageszeitung” numa longa reportagem, que descreve a impressionante solidariedade com a qual os habitantes daquela cidade, apesar da sua pobreza, socorrem as vítimas da seca que afluem diariamente ao campo de refugiados somali.
Autor: António Rocha
Edição: Cristina Krippahl