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Acusações de golpe: "Querem silenciar as vozes críticas"

26 de junho de 2025

Justino Mondlane, porta-voz da Coligação Aliança Democrática (CAD), fala à DW sobre as acusações de envolvimento numa tentativa de golpe de Estado que pesam sobre ele após as eleições gerais.

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Bandeira da Coligação Aliança Democrática (CAD)
Justino Mondlane, porta-voz da CAD: "Penso que a Procuradoria-Geral da República me quer colocar no Livro do Guinness"Foto: DW

Moçambique mergulhou num ambiente de instabilidade política e social depois das eleições gerais de outubro de 2024. As manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeitou os resultados que deram a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), resultaram em centenas de mortos e danos consideráveis em infraestruturas.

Com a repressão aos protestos pós-eleitorais, o Ministério Público instaurou centenas de processos-crime, incluindo contra membros da oposição e da sociedade civil.

Foi neste cenário que foi detido Justino Mondlane, porta-voz da Coligação Aliança Democrática (CAD) — a primeira força política a apoiar a candidatura de Venâncio Mondlane. O político foi acusado de "conspiração contra a segurança do Estado".

Em entrevista à DW, Justino Mondlane rejeita qualquer envolvimento em algo do género.

DW África: Como responde à acusação de "conspiração contra a segurança do Estado"?

Justino Mondlane (JM): Eu penso que, talvez, a Procuradoria-Geral da República me queira colocar no Livro do Guinness, porque eu sou invisual e não vejo como podem acusar uma pessoa como eu de três crimes tão pesados, que seria impossível eu realizar.

A primeira acusação é de que eu fazia "conspiração contra o Estado moçambicano", a segunda é de que "atentava à segurança do Estado moçambicano" e a terceira é de "participação nas manifestações violentas". Como é que eu poderia fazer isso, sendo uma pessoa cega? Seria a primeira vez no mundo que um cego faz um golpe de Estado.

"O povo continua a não ser prioridade"

DW África: Tendo sido a primeira coligação a apoiar Venâncio Mondlane, considera que há uma tentativa deliberada de associar a CAD às manifestações violentas e à instabilidade pós-eleitoral?

JM: Não é possível a CAD ser envolvida nesses atos. Em primeiro lugar, porque a CAD foi [excluída] da corrida eleitoral, ilegalmente. Porque é que haveríamos de querer fazer manifestações neste âmbito, se nós passámos o testemunho ao PODEMOS e foi esse mesmo que apoiou a candidatura de Venâncio Mondlane?

DW África: Considera estas acusações uma tentativa mais ampla de calar as vozes dissidentes no país?

JM: Há uma intenção clara de silenciar as vozes que são contundentes contra o regime. Venâncio [Mondlane] é um dos que grita muito; o presidente da CAD, Manecas Daniel, também. E eu sou a pessoa que tem organizado a CAD em termos de projetos políticos e tem elaborado os manifestos eleitorais para os municípios e para as eleições gerais. Portanto, estas três pessoas são consideradas como aqueles que podem pôr em causa a aceitação da própria FRELIMO [no poder].

DW África: Que caminhos políticos vislumbra para a CAD daqui para a frente?

JM: Creio que a CAD não se vai manter unida. Acredito que, muito brevemente, haverá uma Assembleia Geral em que se poderá dissolver a CAD, porque há desentendimentos internos. Ainda assim, mesmo se a CAD não existir, poderá surgir um outro partido que poderá ocupar uma posição ao nível da oposição moçambicana.

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