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MigraçãoÁfrica

ACNUR: Faltam meios para apoiar refugiados em África

Cai Nebe
20 de junho de 2025

A 20 de junho assinala-se o Dia Mundial do Refugiado. Cerca de 12,7 milhões de pessoas deslocadas à força encontram-se na África Ocidental e Central, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

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Refugiados sudaneses na distribuição de alimentos no Chade
O Chade tornou-se um destino para pessoas apátridas e deslocadas em toda a África Foto: Nicolo Filippo Rosso/UNHCR

Desde 2001, o Dia Mundial do Refugiado é celebrado em 20 de junho, de acordo com resolução aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) está-se a criar uma "tempestade perfeita" de deslocações em massa.

Cerca de 12,7 milhões de pessoas deslocadas à força e apátridas estão na África Ocidental e Central, de acordo com a ACNUR.  Esse número reflete um aumento de 48% desde 2020, quando o número era de 8,6 milhões, evidenciando o agravamento da crise.

"Desde conflitos a choques climáticos, os riscos de se ficar desprotegido e ter que abandonar a terra natal estão a aumentar — particularmente para mulheres e crianças, que representam 80% dos deslocados forçados”, afirma Abdouraouf Gnon-Konde, diretor do gabinete regional do ACNUR para a África Ocidental e Central.

Nigéria, Burkina Faso e Camarões acolhem cerca de 80% das pessoas deslocadas internamente na região. Períodos de seca extrema, inundações e sobretudo conflitos armados e a consequente violência e insegurança forçam as pessoas a procurar abrigo noutras regiões dentro dos seus próprios países.

Segundo a Organização das Nações Unidas, mais de 194.200 pessoas deslocadas internamente regressaram às suas casas no Mali, entre abril e janeiro de 2025, e 64.700 na República Centro-Africana.

Família de refugiados centro-africanos
Família de refugiados centro-africanos no aeroporto de Brazzaville, na República do CongoFoto: Elena Lauriola/UNHCR

Regressos voluntários patrocinados pela ONU

Um dos países que enfrenta enormes dificuldades em acolher refugiados dentro das suas fronteiras é o Chade. Este país do Sahel acolheu até agora quase 780.000 pessoas que fugiram da guerra civil no Sudão. Até ao final do ano são esperados mais 250.000. O país também recebe um grande número de refugiados vindos da República Centro-Africana, a sul, e do Níger, a oeste. Cada grupo enfrenta perigos específicos.

As Nações Unidas têm patrocinado regressos voluntários aos países de origem. Onze mil refugiados regressaram a países como a Nigéria, a República Centro-Africana e o Mali entre janeiro e abril de 2025.

"As crises humanitárias são, antes de mais, crises políticas", diz Alpha Seydi Ba, porta-voz do ACNUR, baseado em Dacar, Senegal, à DW. 

Ba afirma que as repatriações são efetuadas sempre que possível e de forma voluntária: "É sempre uma boa notícia quando as pessoas conseguem regressar a casa. Ser refugiado não é uma escolha, é muito doloroso deixar a casa e tudo para trás. Quando é possível regressar é um motivo de grande regozijo”, acrescenta Ba.

República do Congo | Refugiados centro-africanos
As Nações Unidas têm patrocinado regressos voluntários aos países de origemFoto: Elena Lauriola/UNHCR

Falta de recursos para prestar apoios

A falta de meios financeiros é o maior problema que a Agência das Nações Unidas para os Refugiados enfrenta. O orçamento regional ficou globalmente reduzido em 50% entre 2024 e 2025.

"As nossas operações foram severamente afetadas", lamenta Ba. "Isso significa menos comida, menos abrigo, menos cuidados de saúde, menos água limpa. O ACNUR na região está num ponto crítico.”

"O número de migrantes não para de aumentar”, afirma Luísa de Freitas, responsável pelo Centro Regional de Dados em Dacar da Organização Internacional para as Migrações (OIM), em entrevista à DW. "Estamos a ver que, em geral, cada vez mais pessoas se encontram de alguma forma em fuga.”

Embora muitas pessoas se desloquem para países estrangeiros devido a desastres climáticos, conflitos armados ou instabilidade, a OIM reporta que as necessidades económicas são também um fator determinante da migração.

"Mais de 70% dos indivíduos que entrevistámos nos nossos pontos de monitorização dos fluxos migratórios em 2024 estavam lá por razões laborais ou económicas”, conta Luísa de Freitas, salientando que as rotas migratórias têm-se tornado cada vez mais perigosas, uma vez que os países da União Europeia e seus parceiros em África têm procurado travar o fluxo migratório para a Europa. No entanto, isso não tem impedido os migrantes de tentarem novamente. "As pessoas movem-se quando sentem que não têm outra opção”, frisa Luísa de Freitas.

Moçambique | Cabo Delgado
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) presta apoios a migrantes que emigram por razões económicasFoto: DW

São necessárias novas estratégias

Colocar barreiras ou investir em repatriamentos forçados de migrantes não é a solução, segundo a funcionária da OIM. Em vez disso, Luísa de Freitas aconselha os países europeus a adotarem uma abordagem diferente que fomente e incentive a migração regular, beneficiando tanto os países de origem como os de destino, e dá um exemplo positivo.

"A Espanha lançou recentemente duas iniciativas: uma para regularizar um determinado número de migrantes por ano e também lançou um sistema onde senegaleses podem candidatar-se a vistos temporários de viagem para ir trabalhar para Espanha.”

Muitos países da UE precisam desesperadamente de trabalhadores em setores como a agricultura, acrescenta Luísa de Freitas. "A solução seria, basicamente, tentar transformar a migração num fenómeno vantajoso para todos.”

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