"A partir de hoje Sissoco é ex-Presidente da Guiné-Bissau"
27 de fevereiro de 2025Bissau acordou esta quinta-feira (27.02) com veículos da polícia e elementos das forças da ordem a patrulhar as ruas da cidade num dia marcado por muita apreensão por parte da população. Algumas escolas foram mesmo obrigadas a dispensar os alunos.
As atenções viraram-se no início da tarde para o polémico fim do mandato de Umaro Sissoco Embaló. Às 14h50 minutos de Bissau, as coligações Plataforma da Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka) e Aliança Patriótica Inclusiva (API - Cabas Garandi) assinalaram o fim do mandato de Embaló numa conferência de imprensa, na qual reafirmaram que não resta mais nada ao Chefe de Estado.
"A partir deste momento em que falamos, [Umaro] Sissoco Embaló é ex-Presidente da República. Continuar no Palácio significaria um golpe de Estado. Mas nós não queremos problema neste país, queremos viver na paz e tranquilidade", disse Nuno Nabiam, que conferiu posse presidencial a Umaro Sissoco Embaló, em 2020, à revelia da Constituição guineense.
Nabiam, o então vice-presidente do Parlamento, liderado na altura por Cipriano Cassamá, decidiu, em pleno contencioso eleitoral, conferir posse simbólico a Umaro Sissoco Embaló, há cinco anos. O ato decorreu num dos hotéis da capital.
Hoje de costas voltadas, Nuno Nabiam, que foi nomeado primeiro-ministro guineense logo a seguir à tomada de posse de Embaló, diz que a luta dos opositores do chefe de Estado é a favor da democracia.
"Paralisação total do país"
Como medidas de protesto contra eventual continuidade de Sissoco Embaló no Palácio Presidencial, Nabiam apelou à participação da população na "paralisação total do país, a começar com o setor dos transportes e com a administração pública, convidando os funcionários a não irem trabalhar na sexta-feira."
Quem está disponível a abraçar a causa é o Movimento Revolucionário "Pó de Terra", uma organização da sociedade civil guineense. O seu secretário-geral, Vigário Luís Balanta, não acredita numa solução externa para os problemas do país.
"Não podemos observar a CEDEAO, as Nações Unidas e a comunidade internacional, temos que lutar enquanto guineenses para defender o que é nosso. Por isso, convidamos amanhã [sexta-feira] todo o povo da Guiné-Bissau para, a partir da meia-noite, parar o país inteiro".
Umaro Sissoco Embaló encontra-se no estrangeiro e ainda não reagiu quanto às movimentações políticas desta quinta-feira e à "celebração" do fim do seu mandato presidencial.
Guiné-Bissau sem nenhum órgão legítimo?
Enquanto isso, a missão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) desdobra-se em contactos com os atores políticos guineenses na busca de saída para a crise política no país e de uma data para as eleições legislativas e presidenciais.
Os emissários da organização sub-regional mantiveram encontros na quarta-feira com a PAI Terra Ranka e esta quinta-feira com a "API Cabas Garandi" e com a Comissão Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP).
Após a reunião, o primeiro vice-presidente do Parlamento guineense, Fernando Dias, diz que é preciso que a Comissão Permanente do Parlamento funcione, para acabar com a crise.
"A única entidade legítima neste momento para resolver a crise existente é a Comissão Permanente da ANP, porque ela é que se pode incumbir de resolver o problema na Comissão Nacional de Eleições (CNE) e no Supremo Tribunal de Justiça (STJ)."