"A CPLP é uma organização para festas e festanças"
29 de julho de 2025A cimeira da CPLP que decorreu na Guiné-Bissau, a 18 de julho, decorreu num contexto de forte contestação interna e continua a gerar críticas.
Até hoje, defensores dos direitos humanos questionam o porquê de entregar a presidência rotativa do bloco lusófono a um país onde os principais órgãos de soberania estão caducos. As denúncias de repressão e violações dos direitos fundamentais são constantes.
Para a socióloga angolana Luzia Moniz, a escolha de Bissau como palco do encontro não surpreendeu. Moniz considera que a CPLP nasceu com vícios de origem: "A CPLP serve como palco de vaidades e até como instrumento para branquear a imagem de líderes autoritários. Como aconteceu agora com Embaló. A CPLP é uma organização para festas e festanças."
"Uma organização moribunda"
Bubacar Turé, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, acusa a organização de não refletir os anseios dos povos que a compõem.
"A CPLP é uma organização moribunda e uma organização que não reflete os anseios dos povos que fazem parte desta comunidade. Uma organização que tem ignorado os seus próprios valores democráticos, o Estado de Direito, e tem tido posturas de dois pesos, duas medidas", critica.
O ativista denuncia a violação sistemática dos princípios fundadores da CPLP e acusa a organização de manter um "silêncio ensurdecedor" perante esses abusos.
"Parece-nos que há um pacto de silêncio entre a comunidade internacional em relação à Guiné-Bissau. Por isso, não é de estranhar que o silêncio da comunidade internacional seja algo que, digamos assim, premeia os atropelos, as violações graves dos direitos humanos, a destruição da democracia, do Estado de Direito", afirma.
A socióloga e ativista Luzia Moniz vai mais longe e questiona a própria utilidade da CPLP. Diz que, quando se trata de defender direitos humanos, a organização desaparece. E deixa um alerta: "É preciso transformar estas organizações, primeiramente, em organizações dos povos e não em clubes de chefes de Estado, que é o que acontece."
As críticas surgem na sequência da cimeira da CPLP realizada em Bissau, num contexto de crescente repressão e denúncias de autoritarismo no país.