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MédiaAlemanha

50 anos da DW África: "Por aqui passaram grandes vozes"

17 de abril de 2025

Reinhold Meyer, histórico chefe de redação da DW, recorda os inícios da DW Português para África, há 50 anos: "Conseguimos recrutar ótimos jornalistas e conquistámos respeito e audiência em toda a África lusófona."

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Redação Português para África em 1990
Reinhold Meyer (na foto: 3. do lado direito) em 1991 em frente ao edifício-sede da DW em Colónia, rodeado de alguns membros da redação Português para África. Da esquerda para a direita: Ernesto de Sant'Ana Afonso, António Rocha, Margarida Linden, Pedro Neto, Beatriz Brücken, Emílio Manhique, Bettina Ernst, Reinhold Meyer, Daniel Machava e Marcos MuledzeraFoto: DW/A.Koch

Reinhold Meyer foi uma das figuras que marcaram, de forma decisiva e inequívoca, a génese e o desenvolvimento da DW Português para África e que, durante muitos anos, foi o chefe de redação, até ao final de 2005.

Hoje tem 81 anos e vive nos arredores de Colónia, cidade que, durante cinco decénios, foi sede da DW, antes da emissora estatal da Alemanha se mudar para a cidade de Bona, em 2003. Meyer recorda, com nostalgia e orgulho, os tempos em que a Deutsche Welle - com ele próprio na proa - decidiu produzir os primeiros programas dirigidos aos cinco novos países independentes de língua portuguesa em África.  

DW África: Dr. Reinhold Meyer, bem-vindo! É bom tê-lo connosco! Conte-nos: Como surgiu a ideia de criar a DW Português para África?

Reinhold Meyer (RM): Isso teve, evidentemente, a ver com os acontecimentos históricos e políticos nos países africanos de língua portuguesa. Estávamos em meados da década de 1970, e os países africanos de língua portuguesa tinham recentemente conseguido libertar-se do colonialismo. Os movimentos armados de libertação tinham muita visibilidade e geravam muita atenção no continente africano e no mundo em geral. Nós, na DW, sentíamos a necessidade de reagir aos novos ventos que sopravam. Concluímos, na altura, que devíamos ter em conta as novas realidades, criando programas específicos em língua portuguesa destinados a esses novos países africanos, os denominados PALOP.

DW África: Quais as maiores tarefas e os maiores desafios que se impunham aos pioneiros do projeto?

RM: Inicialmente, atravessámos uma fase bastante difícil em termos de organização e sobretudo a nível financeiro. Não foi nada fácil avançar com a nossa ideia  É preciso dizer que, na altura, já havia um programa em português para Portugal. E nesse programa também já se focava, de forma residual, os temas referentes aos PALOP, mas da perspetiva de jornalistas oriundos sobretudo de Portugal.

Na nossa opinião, o que nós precisávamos, nesse momento, eram vozes mais autênticas, ou seja, vozes de jornalistas oriundos dos novos países africanos: Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Uma das nossas primeiras tarefas era, por isso, encontrar e recrutar colaboradores desses mesmos países africanos de língua portuguesa. O meu primeiro passo nesse sentido foi viajar para os ditos países e iniciar contactos com as emissoras oficiais nos PALOP para recrutar jornalistas para a DW.

Havia, no entanto, o seguinte problema: As emissoras desses países também tinham falta de jornalistas, e por isso nem sempre era fácil trazer bons colaboradores para a Alemanha. Mesmo assim, conseguimos construir relações muito boas com as emissoras parceiras. Eu pessoalmente viajei aos PALOP e mantive negociações com as rádios parceiras e com possíveis candidatos. Foi assim que tudo começou.

Reinhold Meyer
Reinhold Meyer: "Precisávamos de vozes autênticas"

DW África: Nos primeiros tempos quais eram os temas em destaque na DW Português para África?

RM: É evidente que as guerras civis, travadas em Angola e Moçambique, ocupavam, nos primeiros tempos, uma parte significante das nossas atenções. As condições políticas, económicas e sociais nos PALOP, de um modo geral, não eram nada fáceis, o que nos levou a produzir muitos programas especiais e ouvir muitas vozes diferentes sobre os diferentes temas.

Depois, quando acabaram os sistemas monopartidários, enviámos os nossos jornalistas aos países para fazerem cobertura das campanhas eleitorais e das eleições. Esse trabalho contribuiu, e muito, para a crescente popularidade da Deutsche Welle nesses mesmos países, o que nos orgulha bastante.

DW África: A Deutsche Welle conseguiu conquistar grandes audiências nos PALOP?

RM: Sim, sabíamos que éramos ouvidos em onda curta e através das nossas rádios parceiras, porque recebíamos muitas cartas dos nossos ouvintes nos PALOP. Acresce que os nossos jornalistas, que, entretanto, tinham vindo trabalhar para a Alemanha, eram muito conhecidos nos seus países de origem. As suas vozes eram muito populares nos PALOP e as pessoas escreviam cartas dirigidas também a esses nossos jornalistas, para se manterem em contacto com os mesmos, pois as suas vozes tinham grande impacto. Isso contribuiu para o aumento da popularidade da Deutsche Welle em todos os PALOP.

Alemanha 1993 | Foto da equipa da DW África em 1993
Foto de redação captada, em 1993, na DW em Colónia: Da esquerda para a direita: Gil Guimarães, Pedro Neto, Daniel Machava, Juvenal Rodrigues, pessoa não especificada, Reinhold Meyer, António Rocha, Beatriz Brücken, pessoa não especificada, Bettina ErnstFoto: Christel Becker-Rau

DW África: Nos primeiros tempos, a redação Português para África teve de se impor perante outras redações africanas com mais "peso" na DW?

RM: Sim, de facto, os outros programas da DW, na altura, tinham um avanço, porque, como é sabido, os outros países, francófonos e anglófonos, tinham atingido a sua independência muito antes, no início dos anos 1960. Os PALOP conquistaram a sua independência muito mais tarde, na sequência da "Revolução dos Cravos" em Lisboa, em 1974.

Acresce que a língua portuguesa, na altura, estava um pouco "na sombra" de outras línguas, como o inglês ou o francês, mas também de línguas africanas como o suaíli, hauçá ou amárico, línguas muito usadas e conhecidas no continente africano. Foi por isso que as respetivas redações tinham mais meios financeiros à disposição do que a redação em Português para África.