África pode ter soluções para crise em Portugal, diz analista
4 de julho de 2011Numa conferência em Joanesburgo, o professor alemão André Thomashausen, da UNISA (University of South Africa) definiu a crise portuguesa como “uma catástrofe económica, social e cultural”. Relacionou também a crise com a integração do país na União Europeia; na linha de tal pensamento, as raízes de um “Portugal viável” estão “em África e no universo português, que não tem fronteiras”.
“Portugal, na história, sempre teve esta escolha, esta bipolaridade – da afinidade e da extensão para ultramar da expressão portuguesa e da sua incorporação e integração na União Europeia”, avalia o jurista e professor de direito internacional, hoje radicado na África do Sul. Thomashausen iniciou a carreira académica em Portugal e analisa as relações do país europeu com os países lusófonos há várias décadas.
“Agora”, pondera Thomashausen, “esta União Europeia é uma visão que tem muita atratividade para os jovens, só que para o crescimento da economia de Portugal – que é uma economia muito pequena para poder concorrer, a pé de igualdade, com as grandes indústrias europeias – penso que vale a pena repensar o alinhamento de Portugal com os países de expressão portuguesa”.
Portugal poderá exportar mão de obra especializada
“Grandes empresas de construção civil estão a funcionar muito bem em Angola”, diz Thomashausen. “Está lá um enorme sector, especialmente ligado aos serviços, que carece de mão de obra especializada. E é aí que penso que Portugal poderá exportar ainda bastante mais o excedente de gente bem qualificada que há em Portugal”.
Segundo o Professor André Thomashausen, Portugal deveria aproveitar melhor as afinidades existentes entre os países lusófonos. Afinal, perto de 50 milhões de africanos têm o português com língua e os deominados PALOPs (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) regem-se por leis extraídas do sistema jurídico português.
Moçambique e sobretudo Angola são mercados naturais com perspetivas de crescimento não menosprezáveis, diz Thomashausen: “A língua portuguesa é realmente a língua que se pratica. Muito pouca gente pratica o inglês nos países de expressão portuguesa. Existe toda a indústria de processamento de dados; hoje em dia não há atividade que não passe pelo uso dum computador. E, nos países de expressão portuguesa, são computadores que funcionam com base na língua portuguesa”, avalia o professor.
“Toda a adaptação do software passa pelo Português, e é aí que Portugal já tem uma indústria muito desenvolvida, mundialmente reconhecida, e poderá penetrar mais nos países de expressão portuguesa – possivelmente em parceria com grandes empresas brasileiras, que têm mais força para uma tal expansão”, exemplifica.
André Thomashausen rejeita a ideia, propalada, conforme refere, em meios académicos de Lisboa, de que a presente crise não terá solução. Na sua opinião, as últimas eleições em Portugal puseram fim a um consulado de “socialistas românticos” – adeptos de uma diluição do país na Europa, responsáveis pela má gestão da economia, mas também pela ausência de um projeto nacional de Portugal – capaz de gerar confiança.
Autor: António Cascais
Edição: Renate Krieger / António Rocha